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quarta-feira, 13 de abril de 2011

MATERIA EXCLUSIVA DA REVISTA ÉPOCA

Revista Época afirma que “O rap virou pop”. E você o que acha?

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Na edição desta semana da revista Época foi publicada uma reportagem especial sobre rap nacional.
Detalhe para a primeira frase do texto: “Esqueça a militância política. Os novos astros do gênero querem falar é de amor e amizade”. A matéria fala principalmente sobre a carreira de Emicida, mas destaca também outros artistas da nova geração. Rael da Rima, Rincon Sapiência, Slim Rimografia, Lurdez da Luz e Flora Matos são alguns dos nomes citados na matéria.
Para ilustrar ainda mais a diferença entre o rap de hoje em dia e aquele feito nos anos 90 a revista produziu um infográfico que compara as duas gerações.
Abaixo você confere o texto na íntegra. Leia e depois deixe sua opinião nos comentários. Afinal, você acredita que o rap virou pop?

O rap virou pop

Esqueça a militância política. Os novos astros do gênero querem falar é de amor e amizade
André Sollitto e Mariana Shirai. Edição: Luís Antônio Giron

Quando se lembra da primeira vez em que entrou num estúdio de gravação, aos 17 anos, o rapper paulistano EMICIDA não se sente muito bem. “Eu era o rapper típico, aquela coisa tradicional: um bicho grilo desconfiado, desagradável e que não falava com ninguém”, diz. A visita ao estúdio na Zona Oeste de São Paulo, uma das regiões com custo de vida mais alto do país, lhe rendeu um estágio não remunerado. “Fui me adaptando. Morava na periferia e foi bom ter de sair dali todo dia”, afirma. Hoje, passados oito anos, Emicida é o destaque maior de um grupo de jovens músicos que tenta romper com os clichês sonoros e temáticos do rap nacional para soprar vida nova ao gênero.
Emicida é destaque de festivais nacionais de peso, como o Urban Music Festival, em maio, do Lupaluna, no mesmo mês, e do Rock in Rio, em setembro. Ele também é um dos participantes da edição atual do Rumos Música do Itaú Cultural, que mapeia novos talentos pelo Brasil. Emicida foi convidado ainda para participar do cobiçado festival americano Coachella neste mês na Califórnia (problemas burocráticos com seu visto, no entanto, podem comprometer sua participação).
Tamanho sucesso é fruto principalmente de uma mudança de atitude em relação ao gênero rythm and poetry (ritmo e poesia, versos falados a partir de uma base rítmica). Seu segundo CD, Emicídio, de 2010, causou um curto-circuito no rap nacional. A certa altura da faixa título, Emicida, até então mais conhecido por sua capacidade “matadora” de vencer concorrentes em batalhas de improviso (daí o apelido), diz: “Quem ganha mais com a miséria?/Os políticos, o Datena ou o rap?”. Comparar o rap com representantes corruptos da nação e com um apresentador sensacionalista pode ter criado desconforto. Mas Emicida diz ter recebido a bênção de alguns de seus maiores representantes, que reinaram no rap de protesto social dos anos 90, como Mano Brown, MV Bill, Marcelo D2 e Rappin’ Hood. “O rap estava muito chato. Só falava de problemas sociais, da favela”, diz D2. “O público não quer ouvir falar só disso. Essa nova cena continua falando de consciência social – que nos anos 90 a gente fazia de um jeito meio terrorista –, mas de maneira menos direta e mais poética.”


É o caso do maior sucesso de Rincon Sapiência, rapper paulistano de 25 anos, “Elegância”. A música trata de maneira descontraída e divertida do orgulho de se vestir bem e ser admirado pelas garotas por isso. Não deixa de ser uma música “engajada”: ela fala também da necessidade de não ser confundido com bandidos pela polícia, algo comum para negros da periferia. Para Sapiência, a possibilidade de inserir temas e melodias diferentes (ele mescla música eletrônica com sonoridades da capoeira, da umbanda e do candomblé) veio junto com a melhoria de vida nas periferias na última década. “Antes, a vida na periferia era tão ruim que aparecer com um tênis de grife era considerado uma afronta”, diz. “Hoje em dia é um orgulho para a classe C poder consumir coisas que não eram antes da periferia. É o mesmo para a música e para os recursos tecnológicos usados para consumir e produzir arte.”
Emicida também mistura ritmos. Quando ele começou a carreira, isso era uma heresia. “Esse tipo de nicho menor, como o rap, fecha muito a cabeça para outros tipos de música”, diz. Sua bagagem cultural (música negra americana e brasileira dos anos 70 e 80) ficou… na bagagem. “Teve um momento em que me tornei meio burro.” A ousadia foi quase inconsciente. Ao lançar sua primeira mixtape (compilação de músicas em CD caseiro) Para quem já mordeu um cachorro por comida até que eu cheguei longe, Emicida recebeu elogios pela mistura de ritmos. “Estava tudo em mim, e eu nem tinha percebido.” Em Emicídio, ele usou ainda mais melodias diversificadas e mudou os temas das composições, inserindo canções de amor e amizade. As duas mixtapes já venderam, juntas, 20 mil cópias.
Emicida já recebeu três contratos de grandes gravadoras. Recusou todos. Seu próximo disco, que ele considera ser o primeiro oficial, deverá sair em 2012, segundo ele com patrocínio de uma empresa multinacional. Emicida não queria perder a autonomia criativa nem passar pelo mesmo tipo de experiência que MC Slim Rimografia, de 32 anos. Depois de lançar dois CDs independentes (Financeiramente pobre, de 2003, vendeu 4 mil cópias), Slim assinou com o selo inglês Curve, que não o ajudou a lançar nenhum disco por dois anos, mas também não o deixava gravar de forma autônoma. Ele quebrou o contrato para produzir Mais que existir, que sai agora. O disco é uma ode ao rap da diversidade e aposta em ritmos brasileiros como o frevo, presente na faixa “Hinovação”. “O rap está quebrando barreiras”, diz Slim. “Essas misturas chegam a mais pessoas.”


“Não temos medo de ser pop”, diz Lurdez da Luz, de 31 anos, que lançou sua primeira mixtape em carreira solo em 2010. “Somos a primeira geração que extrapolou a ideia de que o rap deveria ser feito apenas para quem faz parte do movimento.” Assim como a maioria de seus colegas, Lurdez usa referências da música brasileira dos anos 70 e 80.
Rael da Rima, de 28 anos, que compõe seu rap com o violão, diz que essa diferença pode ser valorizada no exterior. “O rap brasileiro tem de deixar de se espelhar no hip-hop americano. Quando a gente mistura ritmos nacionais, conseguimos muito mais espaço lá fora”, diz. Isso nem é novidade, diz Criolo Doido, de 35 anos, que lançará o CD Nó na orelha em maio, com sonoridades que vão do samba ao bolero. “Sempre existiu.” Segundo ele, as misturas ficavam escondidas, e agora a internet facilitou o acesso a elas.
O movimento tem até um eco dos rappers da década de 80. Naqueles tempos, o rap tocava em pistas, antes de ser engolido pelo movimento de protesto dos anos 90. Quem identifica o rap com o estilo gangsta pode se surpreender com os novos artistas. Eles cansaram do “mesmo recado rap padronizado” e agora querem “o dom da harmonia”.

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By ThiagoMestre

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